por Tiago Amaral (versão editada)
O vento soprava gelado naquela manhã cinzenta, trazendo o cheiro salgado do mar e o eco distante das ondas quebrando contra o cais. A pequena cidade costeira parecia adormecida, envolta por um manto de neblina e silêncio. Ali, dias de sol eram tão raros quanto histórias felizes – e, quando aconteciam, pareciam apenas lembranças de um passado que já não existia.
À beira do cais, um garoto chamado James esperava. Todos os dias, no mesmo lugar, com o mesmo olhar perdido no horizonte. Ele segurava pela perna um velho urso de pelúcia, presente do pai, John, que havia desaparecido em uma noite de tempestade. James ainda acreditava que o pai retornaria, embora todos na cidade soubessem que ele nunca mais voltaria.
John era um dos pescadores que ousaram navegar em direção ao Triângulo das Bermudas, um lugar onde histórias antigas falavam de navios tragados pelo mar e aviões desaparecidos sem deixar rastros. Alguns diziam que eram as tempestades – violentas e repentinas – que engoliam tudo o que se atrevia a cruzar aquelas águas. Outros falavam de algo muito pior.
Havia lendas, sussurros sobre um monstro colossal escondido nas profundezas. Uma criatura com tentáculos tão imensos que poderiam enroscar-se em navios como serpentes de aço, esmagando-os com uma força incompreensível. Os mais antigos contavam que era uma lula gigantesca, mas não uma criatura deste mundo – e sim de outro plano, outro oceano, outra dimensão.
Os pescadores desaparecidos eram apenas parte do mistério. Um dos casos mais assustadores foi o do Voo 9066, em 1966.
O avião seguia normalmente até entrar em uma violenta tempestade. Relâmpagos iluminavam o céu e a fuselagem tremia como se fosse de papel. No interior da aeronave, os passageiros estavam tensos. Uma senhora, na poltrona 14B, segurava um crucifixo com as mãos trêmulas. Ao lado, sua filha pequena olhava pela janela.
– Mamãe, eu vi alguma coisa lá fora… – disse a menina, os olhos arregalados.
– Não foi nada, querida. Vai ficar tudo bem – respondeu a mãe, tentando esconder o pânico.
Um homem mais à frente se levantou bruscamente, gritando:
– Tem alguma coisa lá fora! Eu vi!
Relâmpagos cortaram o céu, e foi então que alguns passageiros viram – apenas por um segundo – enormes tentáculos surgindo das nuvens, envolvendo a aeronave como se fossem garras de sombra. Na cabine, os pilotos congelaram ao perceber que algo indescritível se enrolava em torno do avião, arrastando-o para o centro da tempestade.
Dentro da aeronave, o pânico se espalhou. A criança gritou:
– Eu disse, mamãe! Tem alguma coisa lá fora!
Os tentáculos apertaram a fuselagem. A estrutura do avião gemeu, o metal se torcendo como se fosse um brinquedo. Um dos tentáculos, grosso como um tronco de árvore, cravou-se na ponta da asa. A turbulência ficou incontrolável. Um último estrondo – e a aeronave se partiu no ar. Passageiros foram lançados ao vazio, engolidos pela escuridão, e alguns foram eletrocutados por raios enquanto caíam.
Na costa, pescadores e moradores que observavam a tempestade viram relâmpagos iluminarem algo enorme e impossível no horizonte. Um dos homens, Jack, de botas e boné encharcados, gritou:
– Meu Deus… aquilo é… um avião?!
Mas em meio aos clarões, viram algo mais – uma silhueta monstruosa, fileiras de tentáculos envolvendo a aeronave. E então, num piscar de olhos, tudo desapareceu. Como se nunca tivesse estado lá.
A busca pelas autoridades foi inútil. Nem destroços, nem corpos, nada foi encontrado. E aquele mistério permanece até hoje, como uma ferida aberta na memória da cidade.
James cresceu com esse trauma. O menino que esperava o pai tornou-se um homem obcecado por respostas. Passou a vida estudando o Triângulo das Bermudas, o Monstro do Lago Ness, qualquer criatura ou fenômeno que pudesse explicar o desaparecimento de seu pai – e de tantos outros. No fundo, ainda carregava a esperança infantil de que, talvez, John tivesse atravessado aquele “portal” e estivesse vivo em algum outro mundo.
Mas algumas portas, como dizem os velhos pescadores, nunca deveriam ser abertas.
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