Por Tiago Amaral - Versão Editada
Numa noite de lua cheia, a
estrada estadual cortava a escuridão como uma fita de asfalto sob o céu
estrelado. Carlos, ao volante de seu carro preto, dirigia em silêncio, o ronco
do motor como única companhia. De repente, uma luz branca irrompeu à frente, no
meio da pista — um brilho tão intenso que parecia engolir o mundo. Ofuscado,
ele girou o volante, o carro derrapando para fora da estrada e mergulhando na
floresta densa ao lado.
Dentro do veículo, o ar ficou
pesado. Carlos, com a respiração acelerada, tateou freneticamente em busca da
lanterna. Revirou o banco traseiro, passou as mãos sob os assentos até
encontrar o objeto, frio e metálico. Agarrou o volante, olhou pelo retrovisor,
espiou pelas janelas laterais — nada. Apenas o luar prateado, as estrelas
distantes e o brilho longínquo das luzes da cidade. O motor, misteriosamente,
recusava-se a ligar, o silêncio do carro amplificando o som de sua própria
respiração ofegante.
Com a lanterna em mãos,
Carlos saiu do carro e voltou pelo caminho de terra, a uns oito metros da
estrada. O ar da floresta cheirava a pinho e umidade, e o silêncio era cortado
apenas pelo farfalhar das folhas. Ao chegar à pista, parou, confuso. A luz havia
sumido. — Estava bem aqui — murmurou, varrendo o asfalto com a lanterna. Nada.
De repente, um clarão
explodiu atrás dele, acompanhado por um som estrondoso, como se o próprio ar se
partisse. Virou-se, o coração disparado, e a luz estava lá — pulsante, cegante,
agora tão próxima que queimava seus olhos. Sentiu o corpo ser arrancado do
chão, como se uma força invisível o arremessasse. Caiu na mata, o impacto
roubando seu fôlego. Percebeu, em pânico, que a lanterna ficara para trás.
Correu de volta, escorregando na terra úmida, agarrou-a e disparou novamente
para a floresta, na direção do carro.
A luz o seguia. O barulho,
agora um rugido grave, fazia o ar vibrar, sacudindo galhos e folhas como se a
floresta estivesse viva. Carlos corria, os pulmões ardendo, fugindo de algo que
não podia ver, algo que não explicava. A escuridão da mata, iluminada apenas
pelo luar, tornava cada sombra uma ameaça.
Então, no meio da fuga, ele
parou bruscamente. À sua frente, um urso pardo ergueu-se, imenso, os olhos
brilhando sob a luz da lua. — Meu Deus, não! — exclamou Carlos, caindo de
joelhos. O animal rugiu, um som que ecoou pela floresta como um trovão, prometendo
despertar qualquer criatura adormecida. Faminto, o urso avançou, suas garras
rasgando o chão, galhos secos estalando sob seu peso.
Quando o urso estava a um
passo de abocanhá-lo, um clarão ofuscante engoliu tudo. A luz expandiu-se,
transformando a floresta escura em um mar de brilho. Árvores, sombras, o urso —
tudo desapareceu num piscar. Então, tão rápido quanto veio, a luz apagou-se,
deixando a mata em silêncio.
O urso, confuso, farejou o
ar. No chão, apenas a lanterna de Carlos e as chaves de seu carro restavam,
reluzindo sob o luar. Ele havia sumido, levado pela luz. Dias depois, rumores
circularam: um homem fora encontrado vagando na região, desorientado, no meio
do nada. Era Carlos? Ninguém sabia ao certo. E eu, que conto essa história, sei
apenas o que ouvi — nada mais.
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