sexta-feira, 21 de abril de 2017

Uma Luz Na Estrada

Por Tiago Amaral - Versão Editada

 

Numa noite de lua cheia, a estrada estadual cortava a escuridão como uma fita de asfalto sob o céu estrelado. Carlos, ao volante de seu carro preto, dirigia em silêncio, o ronco do motor como única companhia. De repente, uma luz branca irrompeu à frente, no meio da pista — um brilho tão intenso que parecia engolir o mundo. Ofuscado, ele girou o volante, o carro derrapando para fora da estrada e mergulhando na floresta densa ao lado.

Dentro do veículo, o ar ficou pesado. Carlos, com a respiração acelerada, tateou freneticamente em busca da lanterna. Revirou o banco traseiro, passou as mãos sob os assentos até encontrar o objeto, frio e metálico. Agarrou o volante, olhou pelo retrovisor, espiou pelas janelas laterais — nada. Apenas o luar prateado, as estrelas distantes e o brilho longínquo das luzes da cidade. O motor, misteriosamente, recusava-se a ligar, o silêncio do carro amplificando o som de sua própria respiração ofegante.

Com a lanterna em mãos, Carlos saiu do carro e voltou pelo caminho de terra, a uns oito metros da estrada. O ar da floresta cheirava a pinho e umidade, e o silêncio era cortado apenas pelo farfalhar das folhas. Ao chegar à pista, parou, confuso. A luz havia sumido. — Estava bem aqui — murmurou, varrendo o asfalto com a lanterna. Nada.

De repente, um clarão explodiu atrás dele, acompanhado por um som estrondoso, como se o próprio ar se partisse. Virou-se, o coração disparado, e a luz estava lá — pulsante, cegante, agora tão próxima que queimava seus olhos. Sentiu o corpo ser arrancado do chão, como se uma força invisível o arremessasse. Caiu na mata, o impacto roubando seu fôlego. Percebeu, em pânico, que a lanterna ficara para trás. Correu de volta, escorregando na terra úmida, agarrou-a e disparou novamente para a floresta, na direção do carro.

A luz o seguia. O barulho, agora um rugido grave, fazia o ar vibrar, sacudindo galhos e folhas como se a floresta estivesse viva. Carlos corria, os pulmões ardendo, fugindo de algo que não podia ver, algo que não explicava. A escuridão da mata, iluminada apenas pelo luar, tornava cada sombra uma ameaça.

Então, no meio da fuga, ele parou bruscamente. À sua frente, um urso pardo ergueu-se, imenso, os olhos brilhando sob a luz da lua. — Meu Deus, não! — exclamou Carlos, caindo de joelhos. O animal rugiu, um som que ecoou pela floresta como um trovão, prometendo despertar qualquer criatura adormecida. Faminto, o urso avançou, suas garras rasgando o chão, galhos secos estalando sob seu peso.

Quando o urso estava a um passo de abocanhá-lo, um clarão ofuscante engoliu tudo. A luz expandiu-se, transformando a floresta escura em um mar de brilho. Árvores, sombras, o urso — tudo desapareceu num piscar. Então, tão rápido quanto veio, a luz apagou-se, deixando a mata em silêncio.

O urso, confuso, farejou o ar. No chão, apenas a lanterna de Carlos e as chaves de seu carro restavam, reluzindo sob o luar. Ele havia sumido, levado pela luz. Dias depois, rumores circularam: um homem fora encontrado vagando na região, desorientado, no meio do nada. Era Carlos? Ninguém sabia ao certo. E eu, que conto essa história, sei apenas o que ouvi — nada mais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário