– Me deixe aqui, descaçando meus ossos, preste
aos encalços da vida. – respondeu um
velho homem, penando, de baixo das sombras de uma velha cabana. em frente ao
velho bar. Na estrada em poeirada, castigada pelo sol escaldante do meio dia.
– Tenho, juro, e me devolve em seguida. – disse o andarilho, que vagava a esmo, por
aquela vasta imensidão. Com palavras que seriam enterradas ali no meio do nada.
– Veja o que sobrou do mundo, veja o que
restou, o nada – exclamava
o velho homem, com uma garrafa nas mãos.
O andarilho respondeu:
– O que restou foi o nada, o nada, agora és o
nada o nosso mundo. Só temos o sol ao dia; a lua a noite para nos guiar, além
da estrada vazia. – Toma, toma um gole, tem mais lá dentro – disse o velho
homem.
O andarilho vinha de um longo caminhar, por
aquela estrada, sem rumo, garganta seca e garrafa vazia, com seu velho cão do
lado. Então ele respondeu:
– Andei tanto, tanto, com o sol a me guiar, e a
me castigar, por toda essa estrada. E ao cair da noite tinha a lua para olhar;
as estrelas para admira, aí eu dormia, sonhando em ver uma garrafa como essa no
dia seguinte.
– Pós é, deu sorte, me ajuda aqui, só para eu
poder me levantar. – disse o velho.
Então o andarilho ajudou o velho a se levantar
dizendo:
– Vamos pegar algumas garrafas.
– Ok, ainda acho que tenho muito para caminhar,
por essa estrada, em vez de esperar a morte ali sentado – disse o velho.
– Sem dúvidas, meu velho; como dizia meu finado
pai: "Ficar sentado esperando a
morte chegar, faz com que a vida não tenha graça nenhuma" – falou o
andarilho.
Então com suas mochilas cheias de garrafas, seguiram em frente pela estrada, jogando
conversa fora; com a tarde já indo embora. – Tiago Amaral
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