Por Tiago Amaral - Versão Revisada
Era uma noite densa, cortada
por uma tempestade implacável. Sam despertou abruptamente, como se arrancado do
sono por uma força invisível. Ainda atordoado, movido por um impulso sonâmbulo,
abriu a porta do quarto. Lá fora, trovões rugiam com fúria, como se anunciassem
o fim do mundo, acompanhados por ventos violentos que faziam as janelas
chacoalharem e os vidros vibrarem com um tremor inquietante.
Meio grogue, ele voltou-se
para fechar a janela, tentando conter a invasão da chuva e do vento naquela
noite estranha. Foi então que se deparou com um corvo, imóvel no parapeito,
seus olhos negros fixos nele. O susto de Sam fez o pássaro alçar voo, desaparecendo
na escuridão.
– Tive um pesadelo horrível –
murmurou, ainda envolto pela névoa do sono. – Sonhei que caía num abismo sem
fim, que acordei no corredor de casa, estirado no chão, com algo... algo
estranho me observando.
Fechada a janela, ele saiu do
quarto, enquanto a tempestade lá fora continuava a soar como o clangor de metal
puro, pesado e opressivo. Ao chegar ao corredor, parou, confrontado pela
memória vívida do pesadelo.
– Foi exatamente aqui –
refletiu, a voz baixa. – Parecia tão real que quase posso jurar que não foi
apenas um sonho.
Enquanto permanecia ali,
imerso em pensamentos, o medo o acometeu como uma onda gelada. Os trovões,
incessantes, rugiam sem trégua, e, de repente, a casa mergulhou na escuridão
com uma queda de energia. Seu coração disparou, batendo em um ritmo frenético,
como se quisesse escapar do peito e subir pela garganta, pronto a explodir.
Na escuridão que engoliu o
corredor, Sam tropeçou e caiu, o chão frio sob suas mãos. Um barulho ecoou pela
casa – um som indefinível, mas perturbador o suficiente para fazer seu corpo
estremecer. Ele ficou paralisado, o medo crescendo com cada ruído que parecia
se aproximar.
Então, como um milagre fugaz,
a luz retornou, lançando um brilho salvador sobre o ambiente. Sam se levantou,
já livre da embriaguez do sono, e caminhou até a cozinha. Abriu a geladeira e
pegou um copo d’água, mas, no mesmo instante, um raio pareceu explodir ao lado
da casa. O copo escorregou de suas mãos, estilhaçando-se no chão em uma chuva
de cacos brilhantes.
O mesmo barulho misterioso
retornou, mais próximo agora. Sam sentiu o peito apertar, a certeza de que algo
surreal acontecia crescendo dentro dele. As luzes da casa começaram a piscar,
acendendo e apagando em uma dança frenética, e ele exclamou, com a voz trêmula:
– O que está acontecendo?
Será que estou enlouquecendo?
Sua aflição, porém, foi
abruptamente substituída por um espanto avassalador. Ele ficou petrificado,
incapaz de mover um músculo, os olhos arregalados diante do que via. Diante
dele, surgiram silhuetas luminosas, pairando como espectros. Uma delas, dourada
e com traços femininos, destacou-se entre as demais. Com um gesto, ela acalmou
as outras figuras e disse:
– Deixem-no comigo. Eu cuido
dele.
A silhueta aproximou-se de
Sam, um homem solitário que vivia isolado em sua casa. Com uma voz suave, mas
firme, ela declarou:
– Você foi escolhido, Sam.
Precisa vir conosco agora.
– Como assim? – retrucou ele,
confuso. – Para onde?
– Não há respostas agora,
apenas a necessidade de nos acompanhar – respondeu ela, com uma autoridade
serena.
Sam hesitou, mas algo em seu
íntimo o convenceu. – Tudo bem – disse, resignado. – Eu vou com vocês.
Ele sabia que não havia
escolha. Assim, foi levado em uma abdução que desafiava sua compreensão.
Durante todo o trajeto, um frio na barriga misturava-se a dúvidas que giravam
em sua mente, enquanto ele tentava processar o que estava acontecendo.
Após o que pareceu uma
eternidade, Sam despertou em um ambiente estranho. Estava em um quarto de
paredes metálicas, com um brilho frio e futurista. A cama, suspensa a pouco
mais de um metro do chão, era acolchoada, feita de um material resistente, mas
surpreendentemente confortável. Uma tela embutida na parede parecia ser o meio
de comunicação com seus captores. O ar era fresco, puro, como o de um campo
verdejante, trazendo uma calma inesperada.
Ao perceber que estava
completamente nu, Sam levou um susto e, desajeitado, caiu da cama, o impacto
deixando-o atordoado. Ainda no chão, ouviu a porta atrás de si se abrir com um
zumbido suave. Ele murmurou, em pânico:
– O que vem agora? Estou em
condições de receber visitas? Que situação!
Levantou-se rapidamente, e o
que viu o deixou boquiaberto. Era algo tão extraordinário que qualquer um,
desacostumado a tais visões, ficaria maravilhado.
Sam não sabia, mas estava a
anos-luz da Terra, em uma nave que cruzava o espaço sideral, muito além da Via
Láctea. O cosmos, vasto e deslumbrante, revelava que a humanidade não estava
sozinha em um universo repleto de mistérios.
A nave movia-se a uma
velocidade estonteante, superando a luz, com a capacidade de se teletransportar
entre pontos do universo em um piscar de olhos. Num instante, estava em um
lugar; no outro, em um canto completamente diferente do cosmos. Era uma tecnologia
simplesmente fantástica.
Naquele momento, a nave
encontrava-se em um sistema solar exótico, composto por doze planetas, sete
deles habitados por seres dotados de consciência, semelhantes aos humanos, mas
espiritualmente muito mais avançados. Esses seres viviam em harmonia com a natureza
há milênios, utilizando tecnologias que pareciam mágicas.
Aquele sistema, similar ao
nosso, era iluminado por dois sóis, fontes primordiais de energia para todas as
raças que o habitavam. Os Sírius, os seres que abduziram Sam, eram criaturas
luminosas, de uma serenidade quase etérea. Sensíveis, inteligentes e conscientes
de uma forma que transcendia a falha consciência humana, eles estavam anos-luz
à frente em evolução.
A raça Sírius era composta
por energias femininas e masculinas, sem corpos materiais. De estatura média,
relacionavam-se por meio de um amor puro e incondicional.
Contudo, tinham a capacidade
de se materializar em formas humanas, refletindo o gênero de sua energia –
feminina ou masculina –, assemelhando-se aos homens e mulheres da Terra.
Dotados de poderes
extraordinários, os Sírius moviam-se mais rápido que a luz, comunicavam-se por
telepatia – seu método preferido – e possuíam clarividência, capaz de
vislumbrar o futuro. Eram mestres da invisibilidade e da levitação, flutuando
com a leveza de borboletas. Eram, em essência, seres magníficos, cuja
existência desafiava a compreensão humana.
Os Sírius eram seres
extraordinários, dotados de clarividência que lhes permitia vislumbrar o futuro
e outras realidades. Podiam tornar-se invisíveis, levitar com a graça de
borboletas e mover-se a velocidades que desafiavam a luz. Sua presença era um
testemunho da maravilha do cosmos.
– Mas por que precisariam de
um simples mortal humano? – perguntou uma voz interna, ecoando a curiosidade de
Sam.
– Você entenderá em breve –
respondeu a silhueta dourada, com um tom enigmático.
Enquanto isso, no sistema
solar onde a nave pairava, um conflito milenar agitava o equilíbrio. Duas
raças, os Dragos e os Lianos, travavam uma guerra secular, e os Sírius, apesar
de sua superioridade, mantinham-se neutros, proibidos de interferir.
Os Dragos eram guerreiros
reptilianos humanoides, com peles escamosas e resistentes, capazes de suportar
golpes devastadores. Machos e fêmeas, igualmente robustos, podiam saltar
grandes distâncias e erguer blocos colossais de pedra. Apaixonados por batalhas,
treinavam incessantemente, mas também buscavam sabedoria e conhecimento, tanto
no combate quanto na vida. Suas armas eram lendárias no planeta Verdiam:
escudos de resistência inquebrável, lanças perfurantes e espadas tão afiadas
que cortavam o ar com um silvo mortal. Os Dragos eram mestres na arte da
guerra, forjando os melhores equipamentos bélicos daquele mundo.
Os Lianos, por outro lado,
assemelhavam-se mais aos humanos. Alguns tinham pele negra, com olhos azuis ou
verdes brilhantes; outros, de pele clara e cabelos loiros, exibiam olhos
castanhos ou negros. Suas madeixas, quase sempre lisas, eram especialmente marcantes
nas mulheres lianas. Dotados de uma inteligência profunda e espiritualidade
elevada, viviam em harmonia com a natureza de Verdiam, cuidando de sua saúde e
do equilíbrio ambiental com devoção.
Embora nem Dragos nem Lianos
fossem nativos de Verdiam, ambos compartilhavam uma certeza cósmica: todos eram
filhos do universo, criações divinas. Os Lianos organizavam-se em classes
distintas: os anciãos atuavam como sábios e mentores, enquanto os jovens
treinavam para se tornar guerreiros. Possuíam habilidades sobrenaturais, como
cura, telepatia, manipulação de energia vital e força sobre-humana. Moviam-se
com leveza, capazes de caminhar sobre galhos finos, contemplando a beleza
exuberante de Verdiam.
Nas batalhas contra os
Dragos, os Lianos usavam arcos com flechas precisas e espadas finas, forjadas
em um metal de resistência incomum, capaz de cortar rochas sem se partir. Sua
juventude era longeva, sustentada por uma dieta de frutas, vegetais e água pura.
A classe guerreira, composta majoritariamente por homens, formava a linha de
frente, enquanto as mulheres lianas cuidavam dos lares, com as guerreiras
servindo como força reserva, prontas para entrar em combate quando necessário.
O cerne do conflito entre
Dragos e Lianos era a Pedra Dourada, um artefato sagrado situado no topo da
Montanha de Gelo desde os primórdios de Verdiam. Para os Lianos, ela pertencia
à Mãe Natureza, um símbolo intocável do equilíbrio do planeta. Os Dragos,
porém, desejavam removê-la, enquanto os Lianos lutavam para mantê-la em seu
lugar. Assim, a guerra se arrastava por milênios, um ciclo de violência sem fim
aparente.
– Ninguém sabe o desfecho
dessa guerra – murmurou uma voz, como se narrasse um mistério cósmico.
– E o que aconteceu com Sam?
Por que ele foi levado? – perguntou outra, cheia de expectativa.
– Deixe-me contar o que houve
com Sam e o motivo de sua jornada ao espaço com aqueles seres luminosos.
Na nave, Sam ainda se
recuperava do impacto de sua chegada. A silhueta dourada que o convencera a
segui-los apresentou-se como Niri. Com um convite gentil, ela o levou para
explorar a nave. Enquanto caminhavam por um corredor, Sam ficou extasiado com a
vista através de um painel de vidro transparente. Naves cruzavam o espaço, e os
planetas do sistema, banhados pela luz de dois sóis radiantes, brilhavam em uma
dança celestial que nenhum humano jamais testemunhara.
Niri, com uma voz calma,
revelou o propósito da abdução:
– Você foi escolhido, Sam,
para passar por um processo de evolução humana.
Ele foi conduzido a uma sala
onde outros Sírius o observavam através de uma divisória translúcida. Deitado
em uma máquina futurista, Sam foi conectado a cabos que pulsavam com energia. O
aparelho o envolveu, transportando-o para o interior de um tubo. Apesar da
incerteza, ele sentia uma confiança inesperada, certo de que sua vida estava
prestes a mudar para sempre.
– Sua existência será
transformada, Sam – disse Niri, com um tom que misturava promessa e gravidade.
Sam, sabendo que não tinha
nada a perder, respondeu com determinação:
– Estou pronto, Niri.
O processo testou suas
capacidades físicas e mentais ao extremo, em uma sessão que durou cerca de oito
horas. Alguns Sírius duvidavam que um humano sobrevivesse, mas Sam emergiu do
tubo transformado. Ele agora possuía habilidades sobre-humanas: força, agilidade
e uma percepção aguçada que o tornavam quase irreconhecível.
– Incrível! – exclamou uma
voz, admirada. – Ele se tornou praticamente um super-herói!
– Sim – confirmou outra. –
Sam renasceu como um novo ser, iluminado para uma jornada universal.
Sam viveu aventuras
extraordinárias pelo cosmos, guiado pelos Sírius. Em um momento crucial, eles o
trouxeram de volta à Terra, revelando sua verdadeira missão:
– A partir de agora, Sam,
você tem a tarefa de mudar o mundo para sempre.
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