domingo, 18 de fevereiro de 2018

Desaparecidos























Já se passaram vinte e um anos. E até hoje… nada. Nenhuma pista, nenhum vestígio. O caso permanece envolto por um silêncio denso, como se a própria realidade se recusasse a revelar o que aconteceu naquela floresta. Cinco jovens desapareceram — e o mundo jamais obteve uma resposta.

Era o verão de 1996 quando eles sumiram. Estudantes do ensino médio, curiosos, inquietos… resolveram fazer um documentário como trabalho escolar. Queriam investigar as luzes estranhas que pairavam no céu — “OVNIs”, diziam alguns moradores, com uma mistura de escárnio e medo. Luzes que não apenas sobrevoavam a pequena cidade, mas pareciam ter um foco específico: a floresta nos arredores. E foi exatamente lá que eles acamparam. E foi lá… que nunca mais foram vistos.

Até hoje, o mistério permanece. Os corpos nunca foram encontrados. Nenhum objeto, nenhum item pessoal, nem mesmo uma pegada fora do lugar. O caso foi dado como encerrado — não por solução, mas por desistência. Um ponto final forçado sobre um parágrafo que deveria estar inacabado. Para os pais, restou apenas o silêncio. Um silêncio pesado, corrosivo, que rasga a alma noite após noite.

Mas o que aconteceu com eles?

Essa pergunta ecoa, incansável, na mente de muitos — da cidade e além dela. Porque aquele ano, 1996, foi repleto de desaparecimentos inexplicáveis ao redor do mundo. Três no Japão. Quatro no Brasil. Onze na Rússia. Dez na China. Pequenos relatos em jornais esquecidos, em boletins ignorados. Mas entre todos… por que o caso americano ganhou tanto destaque?

Porque aqui… um deles voltou.

Ou melhor, sobreviveu.

Seu nome é John. Na época, apenas um garoto entre seus colegas: Mike, Susy, Joe, Mary e Roy. Eles estavam juntos no acampamento, filmando, investigando, rindo… até que tudo começou a se desfazer. Até que a realidade se partiu em silêncio e luz. E só John retornou.

Mas ele não voltou ileso.

O cabelo caiu. O nariz sangra, sem motivo aparente. Os médicos não encontraram nada — nenhum vírus, nenhuma condição clínica, nada. E, no entanto, desde aquela noite, John nunca mais foi o mesmo. Não apenas fisicamente. Seus olhos… seus olhos são de alguém que viu o inominável. Alguém que carrega um fardo que não cabe neste mundo.

Pela primeira vez, depois de todos esses anos, John decidiu contar sua história. E o que ele diz — ou ousa lembrar — é o que você vai ler agora.

 

Relato de John — 21 anos depois

Eu ainda me lembro… como se fosse ontem.
O calor sufocante do dia. O cheiro da mata. As piadas tolas. E depois… o silêncio.

A floresta parecia quieta demais. As árvores, altas, imóveis como sentinelas ancestrais. E então vieram as luzes — deslizando por entre os galhos, com uma elegância quase sobrenatural. Elas dançavam sobre nós… brincavam com o céu. Eu e meus amigos estávamos maravilhados e inquietos ao mesmo tempo. Parecia um sonho. Ou um aviso.

Aquele era o nosso acampamento. Foi ali que tudo aconteceu.

Mike foi o primeiro a sumir.

Mike era o tipo de garoto que todos gostavam: forte, divertido, sempre rodeado de amigos. Um cara de bom coração. Lembro que conversávamos sobre as luzes, ríamos e até tentávamos adivinhar se havia mesmo “homens verdes” pilotando aquilo tudo.

Mas algo começou a mudar no ar. Uma sensação pesada… como se a própria floresta estivesse nos vigiando. Quando olhávamos para o alto, as luzes passavam rápidas como relâmpagos — e a cada passagem, um vento gelado soprava entre as árvores, nos fazendo estremecer. Era como se… não fôssemos bem-vindos ali.

Notamos que nossos narizes começaram a sangrar. Primeiro Joe, depois Susy… depois eu. Ninguém sabia o porquê. Achamos que podia ser o ar seco. Ou talvez — e essa ideia me incomoda até hoje — alguma radiação invisível, alguma energia que não deveríamos estar respirando.

Foi aí que resolvemos fugir. Correr de volta ao carro, tentar escapar daquele lugar maldito. Mas o carro… parou. A poucos metros do acampamento. Simplesmente morreu. E a noite caiu como um manto negro sobre nós. Tudo que tínhamos eram lanternas… e a câmera de Joe. Ele filmava tudo. Não sei como teve coragem. Talvez quisesse registrar aquilo para provar que não era loucura. Ou talvez… para que alguém soubesse o que houve conosco.

Voltamos ao acampamento, relutantes. E então ouvimos o grito.

Foi um grito rasgado. Agudo. Animal.
“AAAAAHHH!”
Mike.

Corremos de volta. Chamamos por ele. Três, quatro, dez vezes. Nada.

Mike havia desaparecido. Como se o próprio ar o tivesse engolido.

Ficamos ali, atônitos. Silêncio. Medo. Confusão. Susy chorava. Roy andava em círculos, tremendo. Joe filmava com as mãos trêmulas.

Foi então que a luz desceu.

Veio do alto, rasgando as copas das árvores como uma lança divina. Era forte, branca… e fria. Não quente como o sol, mas gélida. Um frio que entrava pelos ossos. E no centro dela… havia algo. Uma silhueta.
Humanoide… mas não humana.

As meninas gritaram. Eu congelei. Ninguém sabia o que fazer.

A luz ficou mais intensa. Depois subiu, num rasgo silencioso e súbito, como um relâmpago ao contrário. E então… o som. Um ruído grave, incompreensível. Uma mistura de vozes distorcidas e sons de animais. Como se alguém — ou algo        

— estivesse tentando falar… mas não com palavras humanas.

A luz ficou mais intensa.

Não era calor — era frio. Um frio que se infiltrava nos ossos, que arrepiava a alma. E então, como se obedecesse a um comando invisível, aquela esfera luminosa subiu aos céus como um relâmpago invertido, desaparecendo num silêncio que cortava o mundo ao meio.

Logo depois, ouvimos sons.
Sons que não pertenciam a este planeta.

Alguns pareciam tentativas distorcidas de fala, como um idioma desconhecido tentando imitar o nosso. Outros lembravam ruídos de animais — mas não de animais que conhecemos. Era como se… estivessem zombando de nós. Brincando.

E então, ela voltou.

A esfera de luz caiu do céu como um trovão. O impacto fez o vento se agitar violentamente e todos nós instintivamente recuamos. Eu tremia. Estava apavorado. Aquilo… aquilo não era natural. Não era parte da Terra. Não era humano.

Roy, talvez por impulso, talvez por desespero, pegou uma pedra e atirou contra a esfera.

Ela não fez barulho. Nem ricocheteou.
A pedra simplesmente… desapareceu.

A luz que ela emitia era de um azul profundo e intenso. Era linda, hipnótica             — e completamente alienígena. E apesar da intensidade da luz, era possível, bem no fundo, distinguir silhuetas. Algo — ou alguém — estava lá dentro.
Controlando aquilo.

A floresta ao nosso redor congelava. As folhas estalavam. Os troncos estavam cobertos por uma camada fina de gelo. Tudo parecia repleto de uma energia que não pertence a este mundo.

E então… ela apareceu. Acima de Roy.

Simplesmente surgiu — como se sempre estivesse ali.

Gritamos, todos nós, implorando para que ele saísse de baixo daquilo. Mas Roy… Roy olhava para cima, paralisado. Havia um brilho nos olhos dele, como se estivesse hipnotizado. Fascinado.

A luz pulsou.

E Roy… sumiu.

Desapareceu no mesmo instante. Não houve grito. Não houve resistência. Apenas… ausência.

Ficamos paralisados. Ninguém sabia o que fazer. Estávamos em choque.

Foi quando corremos. Corríamos como animais feridos em fuga, sem saber ao certo para onde. A cidade ainda era visível ao longe, suas luzes tênues tremeluzindo como promessas inalcançáveis.

Tudo o que queríamos era viver.

Mas aquilo… aquilo nos perseguia.

As esferas surgiam do nada. Deslizavam entre as árvores, rápidas, silenciosas. E cada vez que passavam, deixavam atrás de si rastros de luz — partículas luminosas explodindo no ar como pequenas supernovas.

E então… Mary tropeçou.

Foi um instante.

Ela caiu, gritou, e no segundo seguinte, foi levada.
Simplesmente puxada para cima.
Sumiu.

Ela era doce, gentil. Uma amiga verdadeira.

Nunca mais a vi.

O pânico se instalou completamente. Eu sentia o coração tentando escapar pela garganta. Estava suando frio, o corpo em choque. Foi nesse momento que percebi: meu cabelo estava caindo.

Na hora, pensei que fosse o estresse, ou um efeito colateral da exposição àquilo. Nunca imaginei que seria permanente.

Desde então… meu cabelo nunca mais cresceu.

Meu nariz sangra até hoje, sem aviso. E quase todas as noites, os pesadelos voltam. Ainda preciso de remédios para dormir. Para manter a sanidade.

Restávamos apenas nós três: eu, Joe e Susy.

Após a perda da Mary, descansamos brevemente. A floresta mergulhada em escuridão. As lanternas eram nossa única luz. A lua e as estrelas brilhavam tímidas acima. A cidade ainda parecia longe demais.

As luzes continuavam rondando o céu. Esferas múltiplas, todas sobrevoando nossa posição, como se nos vigiando. Não sei como, mas eu sentia que… eles podiam nos ver. Que tinham tecnologia muito além da nossa. Décadas — talvez séculos — à frente.

Mesmo assim, por mais que o medo nos corroesse, havia fascínio. Aquela esfera azul brilhante… era bela. Hipnotizante. Indecifrável.

Perguntávamo-nos, em voz baixa, o que seriam. O que eles queriam.
Talvez os que foram levados saibam agora.
Só espero… que estejam bem.

Eu não sei se eram seres hostis. Mas algo em mim dizia que eles… manipulavam nossos medos. Como se mergulhassem em nossa mente e amplificassem nossos terrores mais íntimos.

Sou claustrofóbico. Tenho pavor de espaços fechados.
E ali… cercado pela floresta escura e sem fim, era como estar preso dentro de um pesadelo sem paredes.

Caminhávamos. Susy vinha um pouco atrás, mais quieta. De repente, ela gritou.
Alto. Agudo.
Caiu no chão e começou a se debater.

Corremos até ela. Eu a segurei nos braços. Seus olhos estavam virados. Seu corpo convulsionava. Um ataque, talvez epilético… talvez algo pior.

Foi horrível.

Durou menos de um minuto. Depois, ela recobrou a consciência, assustada e fraca.

E então… a luz voltou.

A esfera luminosa nos avistou — ou nos sentiu. Recomeçamos a correr. Estávamos esgotados, desesperados, quase sem forças. Joe, mesmo assim, continuava gravando tudo. Como se aquilo fosse a única forma de dar sentido ao que vivíamos.

A floresta parecia não ter fim. Uma de nossas lanternas falhou. A outra tremeluzia.

E então, uma onda de sucção veio de cima.
Uma força invisível.
Avassaladora.

Fui puxado do chão. Meu corpo voou alguns metros, até despencar por um pequeno despenhadeiro. Foi isso que me salvou. Caí rolando entre pedras e folhas secas. Fiquei desacordado por um tempo — não sei quanto.

Quando despertei… tudo estava em silêncio.
E eu estava sozinho.

Só ouvi os últimos gritos.
De Joe.
E de Susy.

Nunca mais os vi.

Éramos colegas de escola. Crescemos juntos. Morávamos no mesmo bairro, ou em bairros vizinhos. Éramos mais que amigos. Tínhamos sonhos. Tínhamos planos.

Tínhamos… todo o tempo do mundo.

Mas a floresta os levou.

Depois disso, não consegui mais viver naquela cidade. Tudo ali me lembrava o que aconteceu. As ruas, os rostos, os sons… tudo era um eco daquele dia. Um lembrete constante.

Tudo o que me restou foi o vazio. A dor.
E as marcas que ainda carrego no corpo e na alma.

Jamais vou esquecer meus amigos.
Jamais vou deixá-los para trás, mesmo que o mundo tenha feito isso.

Isso é tudo.


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