Era o verão de 1996 quando
eles sumiram. Estudantes do ensino médio, curiosos, inquietos… resolveram fazer
um documentário como trabalho escolar. Queriam investigar as luzes estranhas
que pairavam no céu — “OVNIs”, diziam alguns moradores, com uma mistura de
escárnio e medo. Luzes que não apenas sobrevoavam a pequena cidade, mas
pareciam ter um foco específico: a floresta nos arredores. E foi exatamente lá
que eles acamparam. E foi lá… que nunca mais foram vistos.
Até hoje, o mistério
permanece. Os corpos nunca foram encontrados. Nenhum objeto, nenhum item
pessoal, nem mesmo uma pegada fora do lugar. O caso foi dado como encerrado —
não por solução, mas por desistência. Um ponto final forçado sobre um parágrafo
que deveria estar inacabado. Para os pais, restou apenas o silêncio. Um
silêncio pesado, corrosivo, que rasga a alma noite após noite.
Mas o que aconteceu com eles?
Essa pergunta ecoa,
incansável, na mente de muitos — da cidade e além dela. Porque aquele ano,
1996, foi repleto de desaparecimentos inexplicáveis ao redor do mundo. Três no
Japão. Quatro no Brasil. Onze na Rússia. Dez na China. Pequenos relatos em
jornais esquecidos, em boletins ignorados. Mas entre todos… por que o caso
americano ganhou tanto destaque?
Porque aqui… um deles voltou.
Ou melhor, sobreviveu.
Seu nome é John. Na
época, apenas um garoto entre seus colegas: Mike, Susy, Joe, Mary e Roy. Eles
estavam juntos no acampamento, filmando, investigando, rindo… até que tudo
começou a se desfazer. Até que a realidade se partiu em silêncio e luz. E só
John retornou.
Mas ele não voltou ileso.
O cabelo caiu. O nariz
sangra, sem motivo aparente. Os médicos não encontraram nada — nenhum vírus,
nenhuma condição clínica, nada. E, no entanto, desde aquela noite, John nunca
mais foi o mesmo. Não apenas fisicamente. Seus olhos… seus olhos são de alguém
que viu o inominável. Alguém que carrega um fardo que não cabe neste mundo.
Pela primeira vez, depois de
todos esses anos, John decidiu contar sua história. E o que ele diz — ou ousa
lembrar — é o que você vai ler agora.
Relato de John — 21 anos
depois
Eu ainda me lembro… como se
fosse ontem.
O calor sufocante do dia. O cheiro da mata. As piadas tolas. E depois… o
silêncio.
A floresta parecia quieta
demais. As árvores, altas, imóveis como sentinelas ancestrais. E então vieram
as luzes — deslizando por entre os galhos, com uma elegância quase
sobrenatural. Elas dançavam sobre nós… brincavam com o céu. Eu e meus amigos
estávamos maravilhados e inquietos ao mesmo tempo. Parecia um sonho. Ou um
aviso.
Aquele era o nosso
acampamento. Foi ali que tudo aconteceu.
Mike foi o primeiro a sumir.
Mike era o tipo de garoto que
todos gostavam: forte, divertido, sempre rodeado de amigos. Um cara de bom
coração. Lembro que conversávamos sobre as luzes, ríamos e até tentávamos
adivinhar se havia mesmo “homens verdes” pilotando aquilo tudo.
Mas algo começou a mudar no
ar. Uma sensação pesada… como se a própria floresta estivesse nos vigiando.
Quando olhávamos para o alto, as luzes passavam rápidas como relâmpagos — e a
cada passagem, um vento gelado soprava entre as árvores, nos fazendo estremecer.
Era como se… não fôssemos bem-vindos ali.
Notamos que nossos narizes
começaram a sangrar. Primeiro Joe, depois Susy… depois eu. Ninguém sabia o
porquê. Achamos que podia ser o ar seco. Ou talvez — e essa ideia me incomoda
até hoje — alguma radiação invisível, alguma energia que não deveríamos estar
respirando.
Foi aí que resolvemos fugir.
Correr de volta ao carro, tentar escapar daquele lugar maldito. Mas o carro…
parou. A poucos metros do acampamento. Simplesmente morreu. E a noite caiu como
um manto negro sobre nós. Tudo que tínhamos eram lanternas… e a câmera de Joe.
Ele filmava tudo. Não sei como teve coragem. Talvez quisesse registrar aquilo
para provar que não era loucura. Ou talvez… para que alguém soubesse o que
houve conosco.
Voltamos ao acampamento,
relutantes. E então ouvimos o grito.
Foi um grito rasgado. Agudo.
Animal.
“AAAAAHHH!”
Mike.
Corremos de volta. Chamamos
por ele. Três, quatro, dez vezes. Nada.
Mike havia desaparecido. Como
se o próprio ar o tivesse engolido.
Ficamos ali, atônitos.
Silêncio. Medo. Confusão. Susy chorava. Roy andava em círculos, tremendo. Joe
filmava com as mãos trêmulas.
Foi então que a luz
desceu.
Veio do alto, rasgando as
copas das árvores como uma lança divina. Era forte, branca… e fria. Não quente
como o sol, mas gélida. Um frio que entrava pelos ossos. E no centro dela…
havia algo. Uma silhueta.
Humanoide… mas não humana.
As meninas gritaram. Eu
congelei. Ninguém sabia o que fazer.
A luz ficou mais intensa.
Depois subiu, num rasgo silencioso e súbito, como um relâmpago ao contrário. E
então… o som. Um ruído grave, incompreensível. Uma mistura de vozes distorcidas
e sons de animais. Como se alguém — ou algo
— estivesse tentando falar…
mas não com palavras humanas.
A luz ficou mais intensa.
Não era calor — era frio. Um
frio que se infiltrava nos ossos, que arrepiava a alma. E então, como se
obedecesse a um comando invisível, aquela esfera luminosa subiu aos céus como
um relâmpago invertido, desaparecendo num silêncio que cortava o mundo ao meio.
Logo depois, ouvimos sons.
Sons que não pertenciam a este planeta.
Alguns pareciam tentativas
distorcidas de fala, como um idioma desconhecido tentando imitar o nosso.
Outros lembravam ruídos de animais — mas não de animais que conhecemos. Era
como se… estivessem zombando de nós. Brincando.
E então, ela voltou.
A esfera de luz caiu do céu
como um trovão. O impacto fez o vento se agitar violentamente e todos nós
instintivamente recuamos. Eu tremia. Estava apavorado. Aquilo… aquilo não era
natural. Não era parte da Terra. Não era humano.
Roy, talvez por impulso,
talvez por desespero, pegou uma pedra e atirou contra a esfera.
Ela não fez barulho. Nem
ricocheteou.
A pedra simplesmente… desapareceu.
A luz que ela emitia era de
um azul profundo e intenso. Era linda, hipnótica — e completamente alienígena. E
apesar da intensidade da luz, era possível, bem no fundo, distinguir silhuetas.
Algo — ou alguém — estava lá dentro.
Controlando aquilo.
A floresta ao nosso redor
congelava. As folhas estalavam. Os troncos estavam cobertos por uma camada fina
de gelo. Tudo parecia repleto de uma energia que não pertence a este mundo.
E então… ela apareceu. Acima
de Roy.
Simplesmente surgiu — como se
sempre estivesse ali.
Gritamos, todos nós,
implorando para que ele saísse de baixo daquilo. Mas Roy… Roy olhava para cima,
paralisado. Havia um brilho nos olhos dele, como se estivesse hipnotizado.
Fascinado.
A luz pulsou.
E Roy… sumiu.
Desapareceu no mesmo
instante. Não houve grito. Não houve resistência. Apenas… ausência.
Ficamos paralisados. Ninguém
sabia o que fazer. Estávamos em choque.
Foi quando corremos.
Corríamos como animais feridos em fuga, sem saber ao certo para onde. A cidade
ainda era visível ao longe, suas luzes tênues tremeluzindo como promessas
inalcançáveis.
Tudo o que queríamos era
viver.
Mas aquilo… aquilo nos
perseguia.
As esferas surgiam do nada.
Deslizavam entre as árvores, rápidas, silenciosas. E cada vez que passavam,
deixavam atrás de si rastros de luz — partículas luminosas explodindo no ar
como pequenas supernovas.
E então… Mary tropeçou.
Foi um instante.
Ela caiu, gritou, e no
segundo seguinte, foi levada.
Simplesmente puxada para cima.
Sumiu.
Ela era doce, gentil. Uma
amiga verdadeira.
Nunca mais a vi.
O pânico se instalou
completamente. Eu sentia o coração tentando escapar pela garganta. Estava
suando frio, o corpo em choque. Foi nesse momento que percebi: meu cabelo
estava caindo.
Na hora, pensei que fosse o
estresse, ou um efeito colateral da exposição àquilo. Nunca imaginei que seria
permanente.
Desde então… meu cabelo nunca
mais cresceu.
Meu nariz sangra até hoje,
sem aviso. E quase todas as noites, os pesadelos voltam. Ainda preciso de
remédios para dormir. Para manter a sanidade.
Restávamos apenas nós três:
eu, Joe e Susy.
Após a perda da Mary,
descansamos brevemente. A floresta mergulhada em escuridão. As lanternas eram
nossa única luz. A lua e as estrelas brilhavam tímidas acima. A cidade ainda
parecia longe demais.
As luzes continuavam rondando
o céu. Esferas múltiplas, todas sobrevoando nossa posição, como se nos
vigiando. Não sei como, mas eu sentia que… eles podiam nos ver. Que tinham
tecnologia muito além da nossa. Décadas — talvez séculos — à frente.
Mesmo assim, por mais que o
medo nos corroesse, havia fascínio. Aquela esfera azul brilhante… era bela.
Hipnotizante. Indecifrável.
Perguntávamo-nos, em voz
baixa, o que seriam. O que eles queriam.
Talvez os que foram levados saibam agora.
Só espero… que estejam bem.
Eu não sei se eram seres
hostis. Mas algo em mim dizia que eles… manipulavam nossos medos. Como se
mergulhassem em nossa mente e amplificassem nossos terrores mais íntimos.
Sou claustrofóbico. Tenho
pavor de espaços fechados.
E ali… cercado pela floresta escura e sem fim, era como estar preso dentro de
um pesadelo sem paredes.
Caminhávamos. Susy vinha um
pouco atrás, mais quieta. De repente, ela gritou.
Alto. Agudo.
Caiu no chão e começou a se debater.
Corremos até ela. Eu a
segurei nos braços. Seus olhos estavam virados. Seu corpo convulsionava. Um
ataque, talvez epilético… talvez algo pior.
Foi horrível.
Durou menos de um minuto.
Depois, ela recobrou a consciência, assustada e fraca.
E então… a luz voltou.
A esfera luminosa nos avistou
— ou nos sentiu. Recomeçamos a correr. Estávamos esgotados, desesperados, quase
sem forças. Joe, mesmo assim, continuava gravando tudo. Como se aquilo fosse a
única forma de dar sentido ao que vivíamos.
A floresta parecia não ter
fim. Uma de nossas lanternas falhou. A outra tremeluzia.
E então, uma onda de sucção
veio de cima.
Uma força invisível.
Avassaladora.
Fui puxado do chão. Meu corpo
voou alguns metros, até despencar por um pequeno despenhadeiro. Foi isso que me
salvou. Caí rolando entre pedras e folhas secas. Fiquei desacordado por um
tempo — não sei quanto.
Quando despertei… tudo estava
em silêncio.
E eu estava sozinho.
Só ouvi os últimos gritos.
De Joe.
E de Susy.
Nunca mais os vi.
Éramos colegas de escola.
Crescemos juntos. Morávamos no mesmo bairro, ou em bairros vizinhos. Éramos
mais que amigos. Tínhamos sonhos. Tínhamos planos.
Tínhamos… todo o tempo do
mundo.
Mas a floresta os levou.
Depois disso, não consegui
mais viver naquela cidade. Tudo ali me lembrava o que aconteceu. As ruas, os
rostos, os sons… tudo era um eco daquele dia. Um lembrete constante.
Tudo o que me restou foi o
vazio. A dor.
E as marcas que ainda carrego no corpo e na alma.
Jamais vou esquecer meus
amigos.
Jamais vou deixá-los para trás, mesmo que o mundo tenha feito isso.
Isso é tudo.

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