terça-feira, 15 de agosto de 2017

O Palhaço

Por Tiago Amaral - Versão Revisada

Diziam que ele fazia palhaçadas, distribuía brinquedos e doces — e depois devorava as crianças.

Era só uma lenda, claro. Uma daquelas histórias que os adultos contam para assustar os pequenos e mantê-los longe da floresta. Mas naquela cidadezinha esquecida pelo tempo, as crianças começaram a desaparecer. Sem rastros. Sem gritos. Sem despedidas.

Primeiro foi Lucas, o filho da costureira. Depois, Ana Clara, que vendia limonada na esquina. Em menos de um mês, sete crianças sumiram. A polícia não encontrou nada. Nenhuma pista. Nenhuma pegada. Nenhum som.

Até que alguém viu.

Um palhaço — estranho, silencioso, com olhos que não piscavam — entretendo um grupo de crianças na praça central. Ele as atraía com brinquedos coloridos e doces que pareciam brilhar. Quando um morador tentou se aproximar, o palhaço correu. Entrou na floresta e desapareceu entre as árvores como se tivesse se dissolvido no ar.

Naquela mesma noite, uma tempestade violenta assolou a região. Raios cortavam o céu em padrões incomuns. As rádios chiavam. As televisões tremiam. E alguns moradores juraram ter visto luzes pairando sobre os campos — luzes que não pertenciam a nenhum avião.

Vultos começaram a rondar as casas. Sons estranhos ecoavam pelas ruas vazias. Interferências tomavam conta dos aparelhos eletrônicos. E o nome do palhaço passou a ser sussurrado com medo, como se invocá-lo fosse perigoso.

A cidade mergulhou em pânico. Os pais trancavam seus filhos em casa. As escolas esvaziaram. O riso infantil desapareceu das calçadas.

Ninguém sabia — ninguém podia imaginar — o que acontecia com as crianças.

Mas elas estavam lá.

Dentro da luz.

Submetidas a experiências que nenhum ser humano deveria suportar.

As naves sobrevoavam nossas cabeças, invisíveis aos olhos comuns. E lá dentro, nas câmaras frias e metálicas, as crianças eram transformadas.

Então, no primeiro dia de outono, elas reapareceram.

Desmaiadas em um milharal, com os rostos pálidos e os olhos fechados. Quando acordaram, estavam diferentes.

Silenciosas.

Profundas.

E com algo dentro delas que não era humano.

Algumas podiam mover objetos com o pensamento. Outras ouviam vozes que ninguém mais ouvia. Uma delas fez um espelho se estilhaçar apenas com o olhar.

Foram recebidas com alegria. Com lágrimas. Com abraços desesperados.

Mas havia algo errado.

Algo que ninguém queria admitir.

Elas haviam voltado.

Mas não haviam retornado sozinhas.




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