Por Tiago Amaral - Versão Revisada
Diziam que ele fazia palhaçadas, distribuía brinquedos e doces — e depois devorava as crianças.
Era só uma lenda, claro. Uma daquelas histórias que os adultos contam para assustar os pequenos e mantê-los longe da floresta. Mas naquela cidadezinha esquecida pelo tempo, as crianças começaram a desaparecer. Sem rastros. Sem gritos. Sem despedidas.
Primeiro foi Lucas, o filho da costureira. Depois, Ana Clara, que vendia limonada na esquina. Em menos de um mês, sete crianças sumiram. A polícia não encontrou nada. Nenhuma pista. Nenhuma pegada. Nenhum som.
Até que alguém viu.
Um palhaço — estranho, silencioso, com olhos que não piscavam — entretendo um grupo de crianças na praça central. Ele as atraía com brinquedos coloridos e doces que pareciam brilhar. Quando um morador tentou se aproximar, o palhaço correu. Entrou na floresta e desapareceu entre as árvores como se tivesse se dissolvido no ar.
Naquela mesma noite, uma tempestade violenta assolou a região. Raios cortavam o céu em padrões incomuns. As rádios chiavam. As televisões tremiam. E alguns moradores juraram ter visto luzes pairando sobre os campos — luzes que não pertenciam a nenhum avião.
Vultos começaram a rondar as casas. Sons estranhos ecoavam pelas ruas vazias. Interferências tomavam conta dos aparelhos eletrônicos. E o nome do palhaço passou a ser sussurrado com medo, como se invocá-lo fosse perigoso.
A cidade mergulhou em pânico. Os pais trancavam seus filhos em casa. As escolas esvaziaram. O riso infantil desapareceu das calçadas.
Ninguém sabia — ninguém podia imaginar — o que acontecia com as crianças.
Mas elas estavam lá.
Dentro da luz.
Submetidas a experiências que nenhum ser humano deveria suportar.
As naves sobrevoavam nossas cabeças, invisíveis aos olhos comuns. E lá dentro, nas câmaras frias e metálicas, as crianças eram transformadas.
Então, no primeiro dia de outono, elas reapareceram.
Desmaiadas em um milharal, com os rostos pálidos e os olhos fechados. Quando acordaram, estavam diferentes.
Silenciosas.
Profundas.
E com algo dentro delas que não era humano.
Algumas podiam mover objetos com o pensamento. Outras ouviam vozes que ninguém mais ouvia. Uma delas fez um espelho se estilhaçar apenas com o olhar.
Foram recebidas com alegria. Com lágrimas. Com abraços desesperados.
Mas havia algo errado.
Algo que ninguém queria admitir.
Elas haviam voltado.
Mas não haviam retornado sozinhas.
terça-feira, 15 de agosto de 2017
O Palhaço
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