segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Grande Lua

Por Tiago Amaral - Versão Revisada

Num planeta distante, sob um céu cinzento e opressivo, o ar vibrava com sons graves, como tambores colossais ecoando numa vastidão desolada. John, preso nos destroços de sua nave, gritava: — Tem alguém aí? — Sua voz, alta e rouca, perdia-se no vazio. Nenhum ser vivo respondia, apenas os bipes intermitentes do painel da nave, fracos, como um coração à beira da falha.

Ele correu até o cockpit, o peito apertado. — Alguém, por favor! Não sei onde estou! — exclamou, os olhos varrendo a paisagem árida. — Esse lugar é frio, sombrio. Não há vida, mas... pegadas. Pegadas estranhas, saindo dos destroços da minha nave. E pássaros negros voam alto, sob uma lua imensa, tão próxima que parece tocar o planeta. O sol é um ponto distante, fraco. Esse mundo parece morto.

— John, é você? — crepitou uma voz pelo rádio. — Fique calmo, ok? Tente consertar a nave. Deve ser uma avaria. Você vai sair daí.

— Vou tentar — respondeu John, a voz trêmula, os dedos já mexendo nos controles avariados.

O céu, encoberto por nuvens espessas, pulsava com formas indistintas — tentáculos escuros que pareciam rasgar o horizonte. No fundo, silhuetas de criaturas colossais, como baleias negras, moviam-se lentamente, suas sombras projetando uma beleza mórbida. John gritou novamente: — Tem alguém? — Mas o silêncio, cortado apenas por um rugido grave, engolia suas palavras.

A lua dominava tudo, um orbe titânico que brilhava com um fulgor frio, quase vivo. “Que planeta é esse?”, pensou John, o coração disparado. Algo catastrófico acontecera ali, um evento que reescrevera a realidade, deixando apenas vestígios de destruição e solidão.

— John, você está aí? — chamou a voz no rádio.

— Sim, a nave está quase pronta. Parto em breve — respondeu, suando apesar do frio.

— E as pegadas? Pode segui-las?

— Vou ver aonde levam — disse, hesitante, pegando uma lanterna.

As pegadas o guiaram por uma planície rachada até uma caverna pequena, sua entrada engolida por sombras. O ar ali era gelado, o silêncio tão denso que parecia sufocar. Marcas nas paredes — sulcos profundos, como garras — terminavam na entrada. — Não acredito — sussurrou John, a lanterna tremendo em suas mãos.

— O que achou? — perguntou a voz no rádio.

— Um bebê. Uma menina! — exclamou, a voz quebrada pela incredulidade. — Tudo aqui é surreal. Esse cataclismo... mudou tudo.

— Um bebê? Como? Não é viagem no tempo, ou não estaríamos falando. Não é a Terra.

— Não sei. Não há sinal de vida humana aqui, só frieza e morte — disse John, embalando a criança, que o encarava com olhos grandes, silenciosos. — Vou adotá-la. Será minha filha.

— John, isso é loucura, mas saia daí. Leve a menina.

— Certo — respondeu, olhando a lua uma última vez. Imensa, radiante, ela pairava como uma testemunha de segredos antigos. Só mais tarde ele saberia: aquela lua colossal causara o cataclismo, alterando a realidade do planeta para sempre.


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