quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Poder: Tempestade Interna














A mulher caminhava sozinha pela estrada, os pés descalços sobre o asfalto frio, o olhar perdido em algum lugar entre o passado e o nada. Não sabia quem era, nem para onde ia. Apenas repetia em sua mente, como um eco insuportável:

“O que aconteceu comigo...?”

As nuvens acima se acumulavam pesadas, anunciando uma tempestade iminente. Um carro se aproximou, desacelerando quando o motorista notou a figura feminina no acostamento.

— Olha... uma mulher ali. — disse o homem, surpreso.
— Ela parece desorientada... — comentou a esposa. — Temos que ajudá-la.

O casal parou e abriu a porta do carro. A mulher subiu sem dizer uma palavra coerente, apenas murmurava, entre suspiros e olhos marejados:
— Eu os perdi... Eu os perdi...

O casal trocou olhares incertos.

— Ela deve estar em choque... — murmurou o homem.
— Vamos levá-la a um hospital. Eles saberão o que fazer.

A chuva começou a cair enquanto seguiam pela estrada. No hospital, entregaram a mulher à recepção, relatando o que viram.

— Encontramos essa moça vagando na estrada, parecia perdida... assustada.
— Faremos uma avaliação — respondeu a atendente.

Jesse — como descobriram mais tarde que se chamava — foi examinada. Nenhum sinal de lesão física. Nenhuma pista concreta. Mas algo nela... algo vibrava como um sussurro vindo do abismo.

Foi encaminhada para um hospital psiquiátrico. Os médicos não faziam ideia do que estavam acolhendo.

Jesse havia escapado de uma base militar ultra-secreta, onde passou boa parte da vida sendo submetida a experimentos. “Projeto Jesse”, chamavam. Era confidencial. Perigoso. Inumano.

Dias depois, uma psiquiatra experiente, doutora Anna, foi designada para assumir o caso.

— Obrigada pela carona, Tom — disse ela ao amigo que a deixou na entrada do hospital.
— De nada. Boa sorte com ela.

Na recepção, Anna perguntou:

— Vim acompanhar o caso Jesse. Em que quarto ela está?
— Quarto 415. Boa sorte, doutora.

Anna subiu. Quando abriu a porta do quarto, encontrou a garota sentada à janela, observando os galhos balançarem ao vento.

— Olá, Jesse. Esse é o seu nome, certo?

— Sim — respondeu a garota, sem tirar os olhos do céu cinzento. Em seguida, virou-se para encarar Anna com uma intensidade quase sobrenatural.

— Eu preciso sair daqui. Algo muito grave vai acontecer.

A voz dela era calma, mas carregava o peso de uma premonição. Do lado de fora, os pássaros cantavam, desavisados. Um vento morno cortava as árvores. Tudo parecia prestes a explodir.

— Me conte mais sobre isso, Jesse — pediu Anna, sentando-se com um bloco de notas no colo. — Disseram que você perdeu algo... que há perigo.

— Eu já disse tudo. Não posso dizer mais. Não vão entender — respondeu Jesse, desviando o olhar.

Anna anotava, observava, calculava. Mas havia algo em Jesse que ia além da razão. Ela parecia sentir o tempo mudar por dentro. Seus olhos vibravam. Ela não estava só desorientada — ela era um epicentro prestes a colapsar.

Subitamente, Jesse se levantou e segurou as mãos da doutora.

— Por favor... me tire daqui. Me leve para longe. Se eu ficar... algo horrível vai acontecer com todos.

Mas Anna hesitou. Havia protocolos. Regras. E, acima de tudo, medo. Medo do que Jesse era — ou do que poderia se tornar.

Mas como uma garota presa ali não conseguia simplesmente fugir? A resposta era simples: seus poderes vinham e iam como marés violentas. Incontroláveis. Misteriosos.

Antes de chegar à estrada, Jesse havia se escondido na mata. Lá, desesperada por ajuda, encontrou uma cabana isolada. Um homem rude a recebeu com um sorriso lascivo.

— Entre. Você parece cansada...

Jesse, trêmula, entrou.

— Me... me ajude... — sussurrou.

Mas ele a agarrou com brutalidade.

— Vamos, não faça isso difícil...

— Me solta! — gritou Jesse, com os olhos se enchendo de lágrimas e fúria.

O homem riu, puxando-a para dentro. Mal sabia o que despertava.

Naquele instante, algo explodiu dentro dela. Seus poderes despertaram em uma fúria silenciosa, invisível, mas letal.

A casa tremeu. Paredes se desfizeram como papel. Um grito abafado. Sangue. Estilhaços.

Quando a família do homem chegou, encontrou apenas ruínas carbonizadas, sangue espalhado e a sombra do que antes fora um lar. Jesse havia desaparecido, levada por um instinto que nem ela compreendia.

Agora, no hospital psiquiátrico, essa mesma força borbulhava dentro dela, pronta para romper. E o mundo, sem saber, estava prestes a conhecer o verdadeiro significado da palavra poder.

 

Após o incidente na casa, Jesse cambaleou para fora, os olhos marejados, o corpo tremendo. Vomitou ali mesmo, entre as folhas úmidas e a podridão do mato. Ainda desorientada, fugiu pela floresta sem saber para onde ia. Nada parecia feri-la fisicamente — mas por dentro, ela era só caos. Um fantasma assombrado por si mesma.

Eventualmente, seus passos a levaram até a estrada.

— Eu só quero sair daqui... não posso ficar... — murmurou Jesse, o olhar perdido em algum ponto do tempo que ainda não havia chegado. — Eu sinto... eu vejo... algo terrível vai acontecer. E será minha culpa.

— Como assim, algo terrível? — perguntou a doutora Anna, confusa.

O tempo passava e o presságio tornava-se cada vez mais real. Um desastre se aproximava, e Jesse, aquela jovem de aparência frágil, era o epicentro silencioso da tragédia iminente.

Ela era um experimento militar ultra-secreto. Um projeto de destruição ambulante.

O chamado Projeto Jesse fazia parte de uma iniciativa clandestina para criar armas humanas com habilidades paranormais. Era algo monstruoso, enterrado nos porões do mundo civilizado. Se a humanidade havia criado bombas nucleares, o próximo passo seria inevitável: seres humanos como armas conscientes.

Diversas nações cooperavam secretamente nesse tipo de desenvolvimento. Jesse era apenas uma entre muitos. Desde o nascimento, ela e outros como ela foram monitorados, treinados, estimulados — transformados. Tudo sob vigilância de cientistas que, por ironia amarga, incluíam os próprios pais de Jesse.

Com o tempo, seus poderes cresceram, e com eles veio a percepção ampliada. Jesse começou a ver o que ninguém via. Um dia, por falha no sistema, fugiu da base. Ainda que não fosse prisioneira no papel, vivia em cativeiro. Quando finalmente viu a luz do sol — verdadeira luz, não artificial — sentiu uma alegria crua, breve... antes de lembrar que estava sendo caçada.

Correu. E foi na estrada que um carro a atropelou.

O veículo explodiu.

Ela saiu ilesa.

Mais assustada do que nunca, começou a vagar, como um espectro, pela estrada.


Na Base Militar

— Ela é um risco inaceitável. Não controla seus poderes.
— Concordo. Precisamos encontrá-la antes que algo grave aconteça.
— Se não conseguirmos rastreá-la... só nos resta esperar um erro. E torcer para não ser catastrófico.


No hospital, Jesse estava deitada, observando o teto. Ela sabia que, se quisesse, poderia fugir. Mas seus dons eram instáveis, como explosões solares — vinham e iam. Uma arma que ainda não aprendera a atirar.

A noite caiu, estrelada, bela. Um contraste cruel.

Durante o sono, ela foi tragada por um pesadelo. Quando acordou, os lençóis estavam queimados. Lâmpadas piscavam. Objetos tremiam. Seu poder vazava pelas frestas da realidade.

Alarmado, o exército intensificou a caçada. A presença de Jesse começava a ser sentida no mundo real. O tempo se esgotava.

"Não estou conseguindo me controlar. Preciso sair daqui."

Então veio a explosão.

A porta do quarto foi arremessada contra a parede oposta. As janelas se estilhaçaram. Alarmes dispararam por todo o hospital. Enfermeiros correram. Quando chegaram, encontraram apenas destroços... e Jesse, de pé no meio deles, ilesa, com os olhos iluminados por uma energia estranha.

— Eu preciso sair daqui! Não consigo mais me controlar!

— Jesse, você não pode sair! — gritou uma enfermeira, em pânico.

Mas era tarde demais. Jesse avançou. Um gesto bastou para fazer a entrada do hospital explodir. Saiu correndo pela noite, um vendaval de medo e força.

— Jesse, volte! — gritou um dos enfermeiros, impotente.
— O que aconteceu aqui...? — murmurou um segurança, atônito.


Pela cidade, Jesse corria — deixando um rastro de destruição. A madrugada se dissolvia no alvorecer, e as pessoas, sonolentas, assistiam perplexas às sirenes, à fumaça e aos estrondos que ecoavam pelas ruas.

As autoridades foram acionadas. A polícia cercou o perímetro. Helicópteros começaram a sobrevoar a cidade. O caos não era mais contenível.

Na base militar, o alerta final foi dado.

— Mobilizem o exército. Agora.

A arma precisava ser recuperada. A qualquer custo.


Na Cidade

— Parada! Não se mexa! — gritou um policial, com arma em punho.

— Eu não posso me controlar! — gritou Jesse, os olhos tremendo. — É melhor vocês saírem daqui.

Eles não ouviram. As viaturas foram arremessadas como brinquedos. As balas ricocheteavam no ar ao redor dela, desviadas por uma força invisível. Jesse ergueu os braços e, com um salto, subiu trinta metros, pousando no alto de um edifício como uma ave do fim dos tempos.

— Atirem nela! — gritou alguém.

Mas nada a atingia.

Foi quando percebeu — ela podia voar.


O exército chegou. Tropas desembarcaram. Tanques avançaram pelas ruas. A cidade foi tomada.

E Jesse, ali no céu, não era mais uma garota com medo.

Era uma força que nenhum deles compreendia.

 

Enquanto isso, na base militar, todos observavam em silêncio. Uma sala escura, iluminada apenas pelos monitores. Jesse era monitorada como um alvo, não mais como uma jovem. Alguns cientistas estavam aflitos. As outras crianças e jovens, tranquilos — como se já soubessem o destino da garota. No rosto dos envolvidos no projeto, o desespero era evidente.

De todos aqui... Jesse foi a que mais se desenvolveu.
Tenho muito medo do que possa acontecer.
Não podemos fazer nada agora.
Estamos cometendo um erro ao encurralá-la... isso só vai fazê-la perder o controle de vez.

Lá fora, o caos se instalava. Sirenes uivavam. Pessoas corriam pelas ruas sem saber exatamente do que fugiam. O exército avançava sobre a cidade.

O plano era contê-la e trazê-la de volta. Mas já era tarde demais. A cada nova onda de pânico, os poderes de Jesse aumentavam. E ela... já não conseguia contê-los.


Um pelotão de soldados armados até os dentes recebeu a ordem mais temida: eliminar Jesse.

Eles entraram no prédio onde a garota havia sido vista. Subiram rápido, mas hesitantes. No andar superior, encontraram um corredor banhado por uma luz incomum, vibrante. A aura dela preenchia o ambiente como eletricidade viva.

Meu Deus... o que é isso? sussurrou um soldado, pálido.
Temos que detê-la! Atirem! ordenou o comandante.

As balas ricochetearam no ar como se atingissem um campo invisível. Jesse, imóvel, olhou para eles — e o olhar bastou. Uma explosão súbita lançou os soldados pelas janelas, corpos voando por mais de trinta metros.

Jesse, levada pelo próprio impacto, atravessou a vidraça e caiu, planando, no topo de outro edifício.

Caças a jato a localizaram imediatamente. Dispararam. Atingida, Jesse despencou, cabeça para baixo, mas antes de tocar o solo... pairou. Flutuou como se o mundo tivesse perdido a gravidade.

Rapidamente, foi cercada. Tropas, tanques, helicópteros. Ela estava completamente encurralada.

O ar pesava. O céu escurecia. Nuvens negras se formavam como se o universo respondesse ao que estava prestes a acontecer.

Do alto, dois A-10 rasgaram o céu, lançando bombas sobre Jesse. Uma nuvem densa de poeira envolveu tudo. Quando ela se dissipou, Jesse ainda estava lá.

Nenhum efeito... murmurou um soldado no rádio, com os olhos arregalados.
Não temos como capturá-la com vida respondeu outro Atirem. Agora.


E no coração da cidade, sob um céu eletrificado, Jesse fechou os olhos.

Seu poder, pulsando dentro dela como um vulcão prestes a romper, rompeu a última barreira. O chão sob seus pés rachou. Um brilho insano emanava de seu corpo, tingindo o mundo de luz pura.

Silêncio absoluto.

E então, com um grito primal, Jesse explodiu.

Uma onda de energia de proporções cósmicas irrompeu de seu corpo. O clarão foi tão intenso que o dia se transformou em sol artificial. Em segundos, a cidade foi engolida. Prédios torceram suas estruturas antes de desintegrar. Carros voaram. Asfalto se abriu em fendas. O céu se rasgou com uma explosão sonora que ecoaria por gerações.

Onde antes havia uma cidade viva, restava agora apenas um deserto de fumaça, escombros... e um cogumelo de poeira subindo aos céus.


No centro daquela cratera colossal, Jesse emergia.

Sozinha. Queimada por dentro, mas intacta. Seus olhos ainda brilhavam com o resto do poder que havia devastado tudo. Em silêncio, ela olhou ao redor.

E então, caiu em si.

Eu... causei tudo isso... Não consegui me controlar... não consegui... conter... disse com a voz embargada.

O mundo em ruínas. O céu, escurecido. O solo, rachado. Nada restava senão cinzas.

E de repente, uma coluna de luz subiu ao céu, envolvendo Jesse. Tudo ao redor foi brevemente arrastado em direção ao epicentro. E então... ela desapareceu.


No Vale

Jesse despertou em um lugar completamente diferente.

Montanhas elevadas. Céu azul puro. Riachos límpidos correndo entre as pedras. Um vale intacto, onde a natureza ainda respirava com paz.

Ali, sozinha, chorou.

O peso da culpa esmagava seu coração. Mas com o tempo, a dor deu lugar à introspecção. Em silêncio, observando a vida à sua volta — animais, flores, vento — Jesse começou a compreender.

Meditou.

E aprendeu.

Com o tempo, dominou seus poderes. Conectou-se à essência da vida. Percebeu que podia ser mais do que um experimento. Podia ser... esperança.


Algum Tempo Depois

Jesse emergiu do vale, renovada.

Com os olhos serenos e o coração pacificado, agora entendia o valor da vida. Estava pronta para usá-los — não para destruir, mas para proteger. Para ajudar. Para evitar que outros passassem pelo mesmo horror.

Porque, no fim, Jesse não era apenas uma arma.
Ela era a chance de redenção de um mundo que brincou de ser Deus.
E agora...
Ela havia despertado.


Caixa de Recordações

A que pegue 
enquanto os
passarinhos
voam.

A tarde se
dissipa
enquanto
o sol se põe.

Uma caixa
antiga, antigas
recordações.
Um horizonte
para
comtemplar.

E tudo mais
para me lembrar.
Venho sempre
aqui recordar. – Tiago Amaral





Vida Bela

Vida da janela
te vejo mais
bela.
Nessa hora
a tristeza se
ausenta.

O tempo que
passou.
Tanta coisa
que mudou.
A sim fico na
espera.

Do dia me trazer
um bom dia.
Vida da janela
te vejo mais
bela.

Te sinto tão
bela, me sinto
tão só, mas fez-se
alegria esse lindo
dia. – Tiago Amaral 



terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Sobre O Jardim

Rosas
também
morrem.
Folhas que
se perdem
no vento
da tarde.

Um dia de
chuva.
Uma manhã
cinzenta.
Uma saudade
distinta.

A tarde se 
esvai como
o fim de cada
estação que
chega ao seu
final.

Lembranças
de uma tarde.
Chuva de 
primavera.
O céu chorava
sobre o jardim. – Tiago Amaral





quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Chuva de Primavera

O tempo se
esvair 
como um 
navio a se
desatracar 
do cais.

Um campo,
um jardim.
A tarde que
chega ao 
seu fim.

Sob a chuva
de primavera.
Lembranças
que não se 
perdem.

Um moinho
de vento
sob a chuva,
sob o céu
cinzento. – Tiago Amaral



segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Aurora da Tarde

Flores, cores
a chuva sobre
o moinho de
vento.
Sobre o jardim
a tarde chega
ao seu fim.
 
Folhas levadas
pelo vento
da tarde.
Sob o céu do
entardecer.
Aurora da
agora e das
manhãs
seguintes.
 
E sem demora
a tarde vai
indo embora.
E nessas horas,
e nessa hora,
fica a saudade
sob a tarde
que chega ao
seu fim. – Tiago Amaral



sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Flores Na Chuva

Rosas em sua
solidão enquanto
a chuva começa
a cair.
Um jardim 
sob a chuva.

Mesmo 
durante a
primavera.
Venho sempre
aqui para
me lembrar.

Mesmo 
durante todo
o inverno.
Flores sobre
a sua partida.

A tarde olho 
para a linha 
do horizonte.
E vejo o sol
a se pôr mais
uma vez. – Tiago Amaral



terça-feira, 8 de outubro de 2024

Jardim Sob a Chuva

Quando o 
sol se põe
no horizonte.
Quando os
pássaros voam
sobre o sol a
se pôr.

Rosas 
solitárias
de um jardim
sob a chuva.
O orvalho das
manhãs.

Ao longe a
aurora sobre
a linha do
horizonte.
Uma tarde
chega ao fim
sobre o jardim.

Sepulturas
em ruínas 
sob o fim
da tarde.
E a chuva de 
primavera
sobre o jardim. – Tiago Amaral



quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Rosas Negras no Inverno

Rosas negras
sob a última
chuva de inverno.
Lembranças dos
teus olhos.
 
O céu chora
sobre mim,
nas lembranças
que florescem
em meio ao
jardim.
 
Lembranças,
que não têm
fim, sob o fim
da tarde,
sobre o jardim.
 
O tempo vem
e o tempo vai
como as ondas
do mar...
Como as folhas
do outono
em meio ao
jardim. – Tiago Amaral



terça-feira, 17 de setembro de 2024

Saudades ao Entardecer

A tarde vai
indo embora.
E agora vem 
a saudade em
meio ao fim
da tarde.

E, por falar
em saudade,
lembro daquela
tarde sob
o sol de 
primavera.

Tudo retorna
como o beijo
das ondas 
na beira da 
praia sob o fim
da tarde.

O frio recai
sobre mim 
com o último
abraço que o
tempo não
pode apagar. – Tiago Amaral 




sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Princesa da Noite

Em minha
secreta solidão
a noite é uma
princesa.
Lugares e rostos,
cena de um filme
no qual eu já vi.

Navego sob o 
mar de estrelas, 
montando
castelos de areia.
Em noite de 
sereia.

Na hora do 
luar as estrelas 
sorriem e começam 
a brilhar. 
Agora apareça
e não vá mais 
embora. Fica e 
mora no
meu coração. – Tiago Amaral 




sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Flores No Anoitecer

Flores no secreto
e escuro anoitecer.
Ruas e avenidas
a cidade perdida
sob o céu de
estrelas.

A selva de
preda as ruas
sob o luar da lua.
Vagabundos
Iluminados:
Filhos do asfalto
e dá lua.

Pensamentos
livres como
fumaça a se
esvair no ar
frio da cidade.

Tua face em
outras faces.
Em cada rosto
em exposição
pelas ruas
de neon. – Tiago Amaral
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terça-feira, 23 de julho de 2024

Ao Teu Canto

Ao longe o
teu canto
a rouba sem
prantos o
meu coração.
 
Sob o céu
as estrelas
belas como
lindas
donzelas.
 
Da janela
do quarto
enquanto
apreciam a
primavera.
 
Na noite a
lua aparece e
no teu canto a
alma enaltece
e tudo mais
se enternece. – Tiago Amaral 
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quarta-feira, 3 de julho de 2024

Tarde de Inverno

A tarde fria
de inverno.
Ao longe no
horizonte as 
lembranças.

Quanto tempo
já faz, mas nada
mudou, como
um barco
ancorado no cais...
Sob as ultimas
folhas de outono.

As ondas 
timidamente 
beijam a praia, 
me fazendo 
companhia sob 
o fim de tarde.

No horizonte
a saudade sob 
a fria tarde 
de inverno. – Tiago Amaral 
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terça-feira, 18 de junho de 2024

Noite de Sereia

Solidão diante
do mar...
As estrelas
sobre o luar
na esperança
de te ver cantar.
 
Noite de sereia
marinheiro das
estrelas com os
pés na areia e
com o coração
a navegar.
 
Ondas do mar
a quebra
a beira-mar.
Na minha secreta
solidão, olhos
de jaguar, como
não te amar?
 
Quanta emoção
sob a luz do luar.
Mergulhou nas
profundezas
do meu coração. – Tiago Amaral
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sábado, 15 de junho de 2024

Lagrimas Sob A Chuva

Lembranças de
uma primavera
perdida nas
areias do tempo.

Hoje o jardim
amanheceu
sob a forte
chuva.

No horizonte
quantas
lembranças
que retornam
como as ondas
do mar.

Hoje eu chorei
com a chuva.
Lagrimas a se
perderem
sob o temporal. – Tiago Amaral
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Sobre Os Girassóis

O horizonte 
em queda
sobre o azul
do mar.
E o céu azul 
a se dissipar.

Quantas 
lembranças 
do teu olhar
que o horizonte
ainda me traz
sob o sol a
se pôr.

Quanta saudade
nesse fim de
tarde.
Solidão entre
moinhos de
vento.

O sol a se por
sobre os girassóis.
Em sua ausência
se despede o sol. 
Fim de tarde 
sobre as ruínas
dá tua saudade. – Tiago Amaral
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Sobre O Oceano

Sob o sol a 
se pôr quantas
saudade você
ainda traz.

Olho para 
linha do 
horizonte 
sempre que
penso você.

Tudo que
vejo é o 
teu rosto
sobre as
águas do
mar. 

O oceano
que ainda te
traz para 
perto de mim. – Tiago Amaral
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quarta-feira, 5 de junho de 2024

A Última Primavera

Quanta solidão
sob a chuva,
quantas lagrimas
a se perderem
em meio
ao temporal.
 
Flores sob
a chuva,
um jardim
sob as lagrimas
do inverno.
Quanta
saudade que
chegam nesse
fim de tarde.
 
Quanta flores
a florescer ainda
na esperança
de te ver.
O teu sorriso
em meio a ultima
primavera. – Tiago Amaral 
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segunda-feira, 29 de abril de 2024

Memorias de Infância

Quando a
tarde chega
ao fim em meio
ao temporal.

Eu lembro dos
teus olhos
castanhos
como o contraste
do fim de tarde
em meio ao sol
a se pôr.

Memorias de
Infância me
vem em mente,
como um lugar
tranquilo onde
esperaria a
chuva passar.

Ou até que o sol
voltasse aparecer
mesmo sobre o
frio da tarde que
chegava ao seu fim. – Tiago Amaral
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sexta-feira, 12 de abril de 2024

Entre Flores e Lagrimas

Entre flores e 
lagrimas que
se perdem em
meio a chuva.

Entre o frio das 
primeiras tardes 
de outono e entre
o calor das tuas
lembranças. 

Aonde tudo
se perde e se 
encontram.
Um jardim sob
o temporal da
tarde.

Um horizonte
aonde no fim
do dia o sol
se põe e suas
lembranças 
voltam
a florescer. – Tiago Amaral
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quarta-feira, 20 de março de 2024

Eu Imagino

Você talvez não
pense em mim
como eu penso
em você mesmo
mesmo depois
que o dia vai
embora.

Talvez por quer
não andamos
na mesma rua.
Mesmo a sim
eu imagino
você.

Sonhando
acordado eu
me imaginando
do teu lado.
Imagino pegadas
na areia da praia.

Que me levem
ao teu olhar na
beira do mar.
Pode parecer
bobagem
pôs você não
sente os meus
passos... Mas
eu imagino. – Tiago Amaral
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quinta-feira, 14 de março de 2024

Como Folhas de Outono

Cadê que
não vejo,
tudo que
passou 
diante de
mim...

O tempo se 
esvai como 
grãos de areia
entre os 
dedos em
uma tarde
de verão.

Tua falta
ainda repousa
em todos os
lugares como
folhas secas
de outono.

E a saudade
a recair sobre 
o teu jardim 
como a chuva
no fim da tarde. – Tiago Amaral
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sexta-feira, 8 de março de 2024

Em Cada Átomo

Já se passaram
as tardes chuvosas.
Mas não a saudade,
sempre presente
em todas as
estações do ano.

Em cada alvorada
da manhã seguinte.
E em cada entardecer
que chega ao fim.
Sempre presente
como a própria
luz do dia.

E como as estrelas
no céu noturno.
E como o próprio
ar que respiro.
Em cada átomo
e em cada
pensamento que
ainda te guarda.

As ruínas que
tudo resiste e
que ainda resisti
ao tempo... Mesmo
sob as fortes
chuvas. – Tiago Amaral
#amor #saudade #arte #beleza #chuva #primavera #poesia #poema #rosas
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Lembranças Distintas

Lembranças
tão distintas
quanto a luz
do velho farol
sob o frio do
fim da tarde.

Praia solitária
como a tarde
que chega ao
fim e o pôr do
sol sobre
o jardim.

Tarde solitária
sob o pôr do sol.
Um horizonte
distante sobre
o oceano.

A onde sempre
encontro os teus
olhos...
Um olhar distante
sobre a linha do
horizonte...
Como uma eterna
lembrança. – Tiago Amaral
#amor #saudade #arte #beleza #chuva #primavera #poesia #poema #rosas
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quarta-feira, 6 de março de 2024

Campos Solitários

Campos 
solitários
sob a tarde.
Como ruínas 
abandonadas
em algum lugar.

Como antigas
fotográficas
encontradas
pela casa.
Lembranças
perdidas
no tempo.

Os olhos que
nunca esqueci.
A primavera
que nunca se
foi... Mesmo 
sob a chuva. – Tiago Amaral
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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A Cada Florescer

A fria tarde
que chega ao
fim, como
lembranças
de tempos que
não voltam.
 
Flores sob
a fina chuva
da tarde,
como a ultima
lembrança
dos teus olhos.
 
Como na ultima
tarde de
primavera que
se perdeu nas
areias do tempo.
 
Mas tudo ainda
me leva a você,
como cada por
do sol, em um
fim de tarde.
A sim como cada
flor a florescer
junto com o
nascer do sol. – Tiago Amaral
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Além do Horizonte

No alto da 
colina a completar
o belíssimo 
nascer do sol.
Olhos que buscam
por algo além
do horizonte.

Algo que 
dissipa como
flores no final
da primavera.
Um olhar 
misterioso
a ser perder
sob o céu
nublado.

A lembrar
os olhos de
alguém que
se esvai, como
lagrimas na
chuva...
Como o sol
a se pôr em
uma tarde fria. 

A saudade
que acompanha
cada estação
que se esvai,
cada estação que
chega como
um trem que 
chega na estação. – Tiago Amaral
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Olhos Distantes

Templos
sobre planícies.
Lembranças
que se perdem
no tempo... 

Como a tarde
que chega
ao seu fim
em meio ao
frio.
 
Olhos tão
distantes
a se perderem
na linha do
horizonte.
 
Como o próprio
oceano sob o
pôr do sol que
se dissipar
como folhas de
outono ao vento. – Tiago Amaral
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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Campos da Solidão

Campos da
solidão, pássaros
que voam sob
o céu nublado.
Cada dia que
passa o outono
se aproxima.
 
Como as suas
lembranças
que resistir as
estações.
Como flores a
florescer no
amanhecer
do dia.
 
Anunciando
mais uma vez
a chegada da
primavera.
Hoje vi no céu
uma estrela
como a luz de
um velho farol
ao longe.
 
Um jardim
de girassol sob
o pôr do sol.
Tudo pra me
trazer a
lembrança
dos teus olhos.
Como uma
noite de estrelas. – Tiago Amaral
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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Como Espinhos

Os trovões a
rugirem em meio
ao temporal
da tarde.
Quanta saudade
que chega nesse
pôr do sol.
 
Como folhas
secas ao vento
em uma tarde
fria de outono.
A onde o sol
a se pôr se
disperde
sobre a linha
do horizonte.
 
A onde a saudade
é capaz de ferir
a sim como os
espinhos da mais
bela rosa do
jardim.
 
Por quer tudo
de mais belo
abismar-se
na lembrança
dos teus olhos
e do teu sorriso. – Tiago Amaral
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quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Rosas Caídas

Rosas caídas
sobre antigas
sepulturas no
fim da tarde.
A chuva sobre
a sua saudade
 
Você aqui como
flores solitárias
em uma manhã
de primavera.
A tarde se
disperde em
mais um pôr
do sol.
 
A solidão mais
uma vez
contempla
esse contraste
até desaparecer
sobre a linha
do horizonte.
 
E surgia as
estrelas em
meio o céu da
noite pra me
trazer a lembrança
do brilho dos
teus olhos. – Tiago Amaral
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O Visitante

Por Tiago Amaral - Versão Revisada

 A missão para explorar M-32 era uma aposta no escuro, uma dança com o desconhecido. Jack, sozinho em sua cápsula de exploração, sentia o vazio do espaço pressionando contra o casco. A nave, um modelo compacto projetado para missões solo, cortava o vácuo em direção ao planeta, uma esfera enevoada que pairava como um segredo no horizonte cósmico. Então, tudo desabou. Um chiado agudo nos sistemas, luzes piscando em vermelho, e a nave girou fora de controle, mergulhando no céu nublado de M-32 como uma pedra atirada contra um lago de chumbo.

“Quando dei por mim, estava caindo. A nave bateu, e o mundo apagou”, relatou Jack depois, a voz rouca, ainda preso ao eco do impacto. Ele acordou com a cabeça latejando, o cheiro de metal queimado e circuitos derretidos impregnado no ar. A nave, agora um esqueleto retorcido, estava cravada em um vale, cercada por montanhas cobertas de vegetação alienígena — árvores retorcidas, com folhas que pareciam absorver a luz em vez de refleti-la. O céu, pesado com nuvens cinzentas, parecia baixo demais, como se quisesse esmagar o planeta. Cristais negros, afiados como facas, pontilhavam o solo rochoso, dificultando cada passo.

— Meu Deus, onde estou? — murmurou Jack, os olhos grudados na janela da nave, que emoldurava um horizonte de montanhas verdes sob um céu que parecia vivo, pulsando com uma energia errada. A solidão era mais do que silêncio; era uma presença, um vazio que rastejava sob a pele. Não havia pássaros, insetos, nem o menor sussurro de vida animal. Apenas o rugido distante de um mar invisível, vindo de trás das montanhas, como um lamento preso no tempo.

A chuva caiu, pesada, martelando o casco com uma fúria que parecia pessoal. Jack permaneceu dentro da nave, verificando o rádio com dedos trêmulos. — Estão me ouvindo? Sou eu, Jack.

— Jack! — A voz de Anna crepitou pelo comunicador, um fio de esperança na escuridão. — Você está bem?

— Aterrissei em M-32. Foi brusco. Estou vivo, mas... Anna, esse lugar é errado. Não há vida aqui. Nada. Nem um pássaro, nem um inseto. Só plantas... e ruínas. Vou explorar, mas preciso de resgate.

— Jack, tenha cuidado. Não sabemos o que há aí.

Quando a chuva cessou, Jack vestiu o traje espacial, o capacete selado com um clique que ecoou no silêncio. Saiu da nave, a câmera embutida gravando cada passo. O solo rangia sob suas botas, os cristais negros refletindo fragmentos do céu nublado como espelhos quebrados. O som do mar, baixo e constante, vinha de além das montanhas, mas era o único sinal de movimento. O planeta parecia um túmulo, abandonado, com um ar de luto que pesava nos ombros de Jack.

Ele avançou até uma cidadela em ruínas, suas megas-estruturas de pedra negra erguendo-se como ossos de uma civilização extinta. Templos e torres, cobertos de musgo alienígena, exibiam entalhes de figuras humanoides com membros longos e olhos grandes, como se vigiassem algo além da realidade. Inscrições serpenteavam pelas paredes, em um idioma que desafiava a lógica — curvas e ângulos que doíam os olhos ao tentar decifrar. Desenhos esculpidos mostravam cenas de catástrofe: céus em chamas, figuras fugindo para as estrelas.

— Anna, é fascinante... e aterrorizante — relatou Jack, a voz abafada pelo capacete. — Havia uma civilização aqui, mais avançada que a nossa. Algo aconteceu. Um cataclisma, talvez. Uma praga, um vírus... ou algo pior. Eles partiram, mas não sei se por escolha. As ruínas... elas parecem vivas, Anna. E eu tenho medo de estar respirando o que os matou.

— Jack, isso é incrível, mas perigoso — respondeu Anna, a voz tensa. — Saia daí. Não sabemos se há risco de contaminação.

Jack continuou, movido por uma mistura de curiosidade e pavor. O planeta parecia sussurrar, cada pedra, cada cristal, carregando um segredo que ele não queria desvendar, mas não podia ignorar. Ao se aproximar do som do mar, ele parou. Sobre a linha do horizonte, sob o céu nublado, viu algo que fez seu estômago revirar: silhuetas escuras, quase translúcidas, flutuando como espectros. Não eram criaturas, mas entidades — formas que desafiavam a lógica, como anjos caídos de outra dimensão, pairando entre o real e o impossível.

A chuva voltou, leve, mas fria, caindo sobre a areia negra da praia. O mar, escuro como petróleo, movia-se sem vida, suas ondas quebrando em um ritmo que parecia errado, como um coração fora de compasso. Jack gravou tudo, a voz tremendo: — Anna, vi algo. Não sei o que era. Entidades, talvez. Algo sobrenatural. Acho que esse cataclisma abriu uma fenda... para outro plano, outra dimensão. Esse lugar não é só um planeta morto. É um portal.

De repente, um peso o dominou. Ele caiu de joelhos, a visão embaçando. — Filho... Filho! — uma voz ecoou, não no rádio, mas dentro de sua cabeça. Era sua mãe, morta há anos. E então, outra voz, mais frágil, mas inconfundível: — Papai... — Era Carolaine, sua filha, perdida em um acidente que ainda o assombrava. Jack acordou com um grito, deitado no solo frio, o capacete embaçado pelo próprio hálito. — Anna, tive um sonho... ou não era um sonho. Vi minha mãe. E Carolaine. Parecia real, como se eu tivesse cruzado para outro lugar.

— Jack, você está bem? — perguntou Anna, o pânico contido na voz. — Algum dano no traje? Contaminação?

— Não, estou inteiro. Mas o que está acontecendo aqui... não explica. Não é só o planeta. É algo maior.

Jack olhou para o céu, agora mais escuro, trovões rolando como um aviso. Ele sabia: M-32 não era apenas um planeta deserto. Era um limiar, um lugar onde a realidade se dobrava, onde o passado e o impossível se encontravam. E ele, um intruso, estava preso no centro disso tudo.

O planeta M-32 parecia segurar o fôlego, como se soubesse algo que Jack não sabia. As ruínas da cidadela, com seus templos e inscrições alienígenas, sussurravam de uma civilização que fugira às pressas — ou que fora arrancada do próprio mundo. Jack sentia isso na pele, uma certeza fria de que o cataclisma que devastara o planeta não era apenas passado, mas uma ameaça viva, pronta para rasgar a realidade novamente.

O céu, carregado de nuvens negras, rugia com trovões que ecoavam como lamentos. A chuva caía em véus, fria e cortante, transformando a areia negra da praia em um espelho escuro. Jack, parado diante do mar morto, sentia o vazio do planeta como uma faca no peito. As ondas, sem vida, batiam na costa com um ritmo hipnótico, quase ritualístico. Foi então que ele as viu novamente: silhuetas escuras, flutuando no horizonte, como anjos caídos ou espectros de outra dimensão. Algumas estavam mais próximas agora, pairando a poucos metros, suas formas indistintas tremeluzindo como se não pertencessem à realidade. Eram entidades, não criaturas — algo que desafiava a lógica, algo que fazia a mente de Jack gritar para fugir.

Ele precisava descansar. Encontrou uma caverna na encosta de uma montanha, suas paredes cobertas de cristais negros que pulsavam com um brilho fraco, como se respirassem. Acendeu uma fogueira com destroços secos, o fogo lançando sombras que dançavam como as entidades lá fora. Exausto, Jack adormeceu, o som do mar invadindo seus sonhos.

— Pai! Pai! — uma voz infantil o arrancou do sono. Era Carolaine, sua filha, perdida em um acidente anos antes. Ele a viu, tão real, com seus cachos loiros e olhos brilhantes, correndo pela praia negra. — Estamos te esperando, filho! — gritou outra voz, a de sua mãe, morta há uma década. — Te amamos! — As figuras se dissolveram na escuridão, e Jack acordou gritando, deitado na areia fria, a fogueira reduzida a cinzas. O céu nublado parecia mais pesado, como se o próprio planeta estivesse se fechando sobre ele.

— Anna, tive um sonho... ou não era um sonho — relatou ele pelo rádio, a voz tremendo. — Vi Carolaine. E minha mãe. Parecia real, Anna, como se eu tivesse cruzado para outro lugar. Um outro plano.

— Jack, você está bem? — perguntou Anna, o pavor mal disfarçado. — Algum dano no traje? Contaminação?

— Não, estou inteiro. Mas esse lugar... não é só um planeta morto. É um portal. Algo abriu fendas aqui, Anna. Fendas para outros mundos.

O céu escureceu ainda mais, trovões rolando como um tambor de guerra. Jack olhou para cima e viu algo nas nuvens — não uma forma, mas um vazio, uma sombra que se movia contra a lógica, como se o próprio céu estivesse rachando. — Vi algo nas nuvens, Anna. Não sei o que era, mas era... errado.

— Saia daí, Jack. Agora — ordenou ela.

— Estou indo. Vou levar amostras do que encontrei. Enviando sinal de resgate agora.

Jack correu em direção à nave, a chuva caindo em torrentes, o solo escorregadio sob suas botas. Cada passo era uma luta contra o peso do planeta, como se M-32 quisesse segurá-lo. Ele gravava mensagens, a voz entrecortada: “Esse lugar é mais do que parece, Anna. Não são só sonhos. Eu ouço vozes, ruídos... vejo silhuetas flutuando, como fantasmas. Sinto Carolaine e minha mãe, como se estivessem aqui. E se eu não sair agora, acho que vou ficar preso... para sempre.”

Um som ensurdecedor cortou o ar, um lamento que não era humano, seguido por um brilho que piscou e se apagou no horizonte. Jack parou, o coração na garganta. O cataclisma que devastara M-32 não era apenas uma memória — era uma força viva, abrindo fendas para mundos além da compreensão, talvez até o mundo dos espíritos. Ele sentiu isso, uma certeza fria: aquelas entidades, aquelas silhuetas, não eram apenas resquícios. Eram guardiãs, ou predadoras, de algo muito maior.

Chegando à nave, Jack quase caiu de alívio. “Consegui, Anna. Estou na nave. Enviando o sinal.” Ele acionou os controles, o painel piscando com vida relutante.

— Jack, está me ouvindo? — A voz de Anna crepitou, um farol na escuridão.

— Estou aqui, Anna.

— A nave de resgate está a caminho. Aguente firme.

Jack olhou pela janela uma última vez. O céu de M-32 trovejava, as entidades pairando na distância, como se o observassem. Ele voltou para casa, mas não ileso. O que viu, o que sentiu, ficou com ele — as vozes de Carolaine e sua mãe, o peso do planeta, o vazio que não explicava. E, de algum modo, M-32 o aproximou de Anna, como se o universo, em sua crueldade, tivesse dado a eles uma segunda chance após a perda de Carolaine. Mas, nas noites seguintes, Jack ainda olhava para as estrelas, perguntando-se se aquelas fendas se abririam novamente.