Por Tiago Amaral - Versão Revisada
Acordei num corredor longo e
escuro, o ar frio e metálico pesando nos pulmões. À minha frente, uma porta
antiga, com entalhes gastos que pareciam de outra era. Não sei como cheguei
ali, nem por quanto tempo estive apagado — minha mente era um vazio. Abri a
porta com mãos trêmulas e o que vi me fez gelar: um deserto árido, infinito,
banhado por um sol pálido. — Tem alguém aí? — gritei, a voz ecoando sem
resposta, engolida pela vastidão.
Cascavéis rastejavam entre
rochas secas, e urubus planavam no céu sem nuvens. Estava sozinho, perdido no
meio do nada, sem direção ou pistas. Minha intuição era a única bússola.
Fragmentos de memória começaram a surgir: eu, Jack Johnson, em casa, preparando
o café da manhã após um banho quente. O rádio noticiava avistamentos de OVNIs,
sinais estranhos pelo mundo. Então, um clarão ofuscante irrompeu pela porta da
cozinha, engolindo tudo. Depois, escuridão — até acordar naquele corredor
maldito.
Um círculo de vidro na porta
deixava passar um feixe de sol, que me arrancara do torpor. Caminhei para fora,
a areia quente queimando as solas dos sapatos. Andei por horas, o deserto um
mar de silêncio, até avistar um carro enferrujado à beira de uma estrada
esquecida. O mundo parecia vazio, como se todos tivessem desaparecido num
piscar. Parei num posto de gasolina abandonado, o ar cheirando a óleo velho e
poeira. Peguei água e comida, a fome e a sede apertando, mas deixei dinheiro no
caixa, um gesto inútil num mundo sem donos.
Dirigi por uma estrada
deserta, o vento levantando papéis e roupas abandonadas, como fantasmas de uma
vida passada. Não havia sinal de humanidade — apenas o vazio, um feriado eterno
sem celebração. Ao chegar em casa, tudo estava intacto: a mesa posta, o rádio
mudo, o café frio na cafeteira. Mas uma sensação estranha me dominava, como se
séculos tivessem passado, como se a humanidade tivesse sido apagada por uma
guerra silenciosa ou por sua própria ruína.
Não posso ficar aqui. O mundo
está morto — só animais vagam, e nada funciona sem pessoas. Preciso entender o
que aconteceu, encontrar outros sobreviventes, se é que existem. Deixo esta
carta na esperança de que alguém a encontre. Se você está lendo, saiba que
estou lá fora, procurando respostas.
Ass: Jack Johnson
P.S. Só depois descobri: eu
era um dos escolhidos, deixado para recomeçar a Terra de forma mais sábia, mais
ligada à natureza. A humanidade, uma praga que se perdeu em concreto e
ganância, foi varrida por um controle maior. Mas isso, eu só saberia mais tarde.